Montesclareou: maio 2013

Páginas

sexta-feira, 24 de maio de 2013

O problema do trânsito e das ruas de Montes Claros é um problema de falta de vontade que se traduz em falta de vontade política

O jornalista José Prates e o arquiteto Luiz Ortiga, nas mensagens 75455 e 75459 respectivamente, falam de alguns problemas atuais que Montes Claros enfrenta com a sua superpopulação, que é em partes devido ao aumento natural do número de seus habitantes e também ao aumento do fluxo migratório vindo das regiões vizinhas. Eles mencionam também, e acertadamente, sobre o problema das ruas estreitas e do aumento do número de carros, cujo o centro da cidade já não comporta mais.

Realmente não é um problema de fácil solução e que hoje em dia até cidades com população menor que a de Montes Claros vêm passando pelo mesmo problema. O que diremos então das cidades maiores? São poucas as cidades do mundo que já nasceram planejas. Dentre elas podemos destacar a nossa vizinha Capitão Enéas, merecidamente conhecida como a “cidade das avenidas”. Foi graças a visão de seu fundador, o Capitão Enéas Mineiro de Souza, que foi possível que a antiga fazenda Burarama se transformassem em cidade, sem precisar passar por vila, arraial, povoado ou distrito. Coisa de mineiro que leva Mineiro até no nome.

Nós, montes-clarenses, não tivemos a mesma sorte que os eneapolitanos, mas isso não quer dizer que estamos fadados ao aperto de nossas ruas ou que tenhamos que conviver com o caos urbano para sempre. As soluções para contornar esse problema existem e só depende de vontade política. Mas a escassez ou ausência dessa vontade política, que permitiu nossos representantes nas últimas décadas postergar o problema para os gestores seguintes, é que vem transformando esse problema em um bicho de sete cabeças. Falo assim porque tive o privilégio de morar em Vigo, cidade da região da Galícia, na Espanha e na qual gostaria de fazer aqui algumas comparações. Minas Gerais e Galícia tem muito em comum, para começar cada região é considerada como a detentora da melhor culinária de seus respectivos países; Montes Claros tem muito em comum com a cidade de Vigo, a começar pelas ruas apertadas do centro da cidade, que na cidade viguesa recebe o nome de Casco Velho.

Vivi ali justamente na época em que a cidade de Vigo iniciou as revitalizações de suas ruas e de algumas áreas degradadas – talvez tenha vivido ali para poder contar essa história e que poderá servir de exemplo para a Montes Claros de hoje e futura. Na minha opinião, o que ocorreu em Vigo não foi uma simples revitalização de suas ruas, mas se tratou de uma verdadeira revolução. E essa revolução iniciou muito bem. Acertaram eles até na escolha do nome do projeto, que foi batizado de “humanização de nossas ruas”. O leitor poderá conferir algumas fotos que irei disponibilizar ao final deste post. Acredito que é isso que falta para Montes Claros, humanizar as nossas ruas. Mas para isso necessitaremos também de políticas mais humanas.

Citarei alguns exemplos que talvez valessem a pena ser seguidos. Para a coleta do lixo no centro da cidade de Vigo, em alguns pontos são utilizados grandes contêineres subterrâneos, permanecendo visível apenas algumas lixeiras devidamente sinalizadas e que facilitam a separação do lixo. As calçadas também ganharam árvores, respeitando a área para drenagem das águas das chuvas. As ruas, contrariamente às calçadas, foram estreitadas. Áreas reservadas para estacionamento dos carros nas principais ruas do centro, praticamente desapareceram. Mas essa medida trouxe mais gente caminhando e consequentemente favoreceu o comercio local.

O carro vem perdendo o seu status e para comprovar isso basta ver as estatísticas de vendas nos EUA e na Europa. O transporte coletivo, quer público ou privado, é o transporte mais racional e inteligente que existe. Quem viaja de avião sabe disso. Nas cidades, o mesmo princípio deve ser observado. As cidades inteligentes, para continuarem sobrevivendo, deverão oferecer transportes coletivos eficientes. Montes Claros não tem transporte coletivo eficiente, então a nossa preocupação deverá ser em criar e oferecer esse tipo de transporte para seus habitantes. Ninguém, em sã consciência, ao ver uma multidão de pessoas, em dias de chuvas, serem arrastadas por uma enchente de um lugar para outro, teria a coragem de dizer que aquelas pessoas estão se locomovendo por um transporte coletivo. Não é mesmo? Portanto, transporte coletivo tem que ser o mais limpo, o mais seguro, o mais rápido, o mais agradável, o mais acessível e o mais barato. Se não for assim, então é porque não é racional, nem inteligente.

Quando por motivo de extrema justificativa o transporte coletivo não puder ser aplicado e caso tenhamos que usar o transporte individual, neste caso deveremos optar pelo uso das bicicletas, se quisermos continuar no mesmo princípio de racionalidade e inteligência. Em casos extremos onde não se possa fazer uso da bicicleta, deveremos usar o táxi. E somente em último caso é que deveremos utilizar o nosso próprio carro como meio de transporte. E ainda assim deveremos ter uma boa justificativa caso fôssemos questionados por algum amigo nosso que viesse a perguntar o porquê de não estarmos usando o transporte público. Se a justificativa não for boa, ficaremos com cara de bobo e o nosso amigo poderá pensar: “como ele é burro”. Evite portanto constrangimentos desnecessários.

No dia em que Montes Claros tiver transporte público, tenho certeza de que as pessoas irão utilizá-lo como seu meio de transporte. Acabará portanto os engarrafamentos que vemos hoje, reduziremos as colisões e o número de vítimas fatais, oriundas de um trânsito caótico. No dia que seguirmos exemplos de cidades como Vigo, veremos mais pessoas nas ruas, senhoras passeando com seus netos, veremos ruas floridas e sombreadas. Veremos cegos locomovendo-se sozinhos e exercendo direitos básicos como o de poder ir numa padaria e comprar o próprio pão. Veremos também vários cadeirantes pegando o ônibus para ir para a escola ou para a universidade. Veremos então nesse dia as pessoas resgatando seus direitos mais básicos e podendo se sentir novamente como um ser humano digno.

Tudo isso é possível, mas como disse antes, faltam apenas pessoas com vontade. Pessoas sem vontade própria para praticar o bem em favor do seu semelhante, não pode ter vontade política. E para finalizar deixo aqui esta frase: “Nada é impossível para quem tem força de vontade e está voltado para o cumprimento do dever.” - Luiz de Mattos.

----------------

As fotos que se seguem são dos fóruns skyscraercity.com e urbanity.es (clique nas imagens abaixo para ver em tamanho real)