Montesclareou: agosto 2013

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sábado, 3 de agosto de 2013

De bitola curta à bitola larga. E isso é bom?

             Crédito desta foto: http://voudetrem.blogspot.com.br

Lembro-me, de quando era pequeno, que fazíamos a viagem de Montes Claros à Belo Horizonte de trem. Parecia uma eternidade, mas era algo que gostava muito, principalmente por causa do medo que dava ao passar de um vagão para o outro. Era uma aventura para qualquer menino. Os trens de ferro sempre fizeram parte da minha infância, quer seja jogando bola num campinho em frente a residência do professor Milton baleiro, que ladeava a linha férrea, quer na hora de dormir, onde podia pegar no sono ao som da melodia do trem carrilhando sobre os trilhos. Outras vezes ocorria que era despertado de súbito com o “apitaço” da locomotiva, que sem dó nem piedade, fazia o maior estrondo para avisar aos desavisados que atravessavam os trilhos, quer na rua Urbino Viana ou na rua Professor Álvares Prates.

Recentemente tivemos a alegre e atrasada notícia trazida pela ANTT (msg 75838), de que o trem voltaria a carrilhar em Montes Claros, no trecho Belo Horizonte/MG – Candeias/BA. Essa noticia também foi recebida com bons olhos por Luiz Ortiga (msg 75861) e por José Prates (msg 75881). Mas o que chamou a nossa atenção foi outra notícia divulgada pelo próprio montesclaros.com (msg 75843) que publicou “Trilhos deixarão a cidade de Montes Claros e passarão a 50 km de distância, para permitir trens de carga na velocidade de até 80 km. Projeto deve começar no segundo semestre de 2014”, notícia esta que foi dada pelo jornalista Geraldo Onésimo.

Como podemos perceber, o sonho de muitos montes-clarenses, partilhado também com os nossos vizinhos norte mineiros, que é voltar a ver o trem carregando passageiros, parece que vai ainda perdurar e não sabemos quando voltará a ser realidade. É por isso que o senhor Walter Abreu (msg 75860) ficou com dúvida e ao mesmo tempo indignado, ao constatar que na reunião, para discutir uma obra tão importante e necessária para o Norte de Minas, só havia 7 pessoas. E o que tudo indica, parece que houve desinteresse e uma falta de transparência por parte da ANTT, como podemos perceber a partir de outra mensagem do senhor Walter Abreu (msg 75864). E outras dúvidas também surgiram, como podemos perceber na mensagem de José Ponciano Neto (msg 75863), que questiona, dentre várias outras exigências, o sonhado Trem Metropolitano (de Glaucilândia à Capitão Enéas). Portanto, a ANTT ao veicular uma notícia que é de suma importância para o Norte de Minas, apenas poucas horas antes de iniciar a primeira reunião, quando ela poderia ter sido divulgada desde o ano passado (DOU 28/12/2012), nos deixa margens para fazermos certas especulações.

Sabemos que o mundo, especialmente a China, está com "fome" do nosso minério. Mas não podemos entregar de bandeja os nossos recursos e depois ficarmos com um imenso buraco para ser tapado. E é isso o que se tem feito com a nossa gente, retiram de nós o que temos, em troca de nada e ainda nos deixam com um imenso buraco. Pois bem, querem retirar nosso minério? Que nos deixe então um metrô de superfície (Light Rail, em inglês) ou VLT (Veículo Leve sobre Trilhos), a exemplo das várias cidades europeias, dos Estados Unidos ou de Israel. Sabemos que no Brasil tudo envolve esquemas de super faturação e pouco investimento em infraestrutura. Precisamos sim de um transporte ferroviário para desafogar os veículos pesados das nossas estradas, mas também precisamos de um transporte mais eficiente dentro da nossa cidade, para desafogar as nossas ruas. E talvez a hora é agora. Nós temos o minério e os investidores têm o dinheiro que poderá viabilizar o sonho de muitos montes-clarenses e também de nossos vizinhos.

Apenas para concluir, quero dizer que aqui em Londres, os mesmos trilhos que durante o dia é usado para carregar passageiros, durante a noite ele é ocupado com outros tipos de vagões, para carregar materiais, muitos deles com insumos importados, como já vi com cargas vinda da China e também do Brasil. Isso sim é logística! Que é aproveitar uma coisa e dar a ela múltiplas funcionalidades. Portanto não adianta vir querer dizer que vão trocar a bitola, porque não somos bitolados. Para quê colocar um trem mais rápido se não vai transportar passageiros? Para retirar nossos recursos com maior rapidez? Talvez sirva sim para transportar mercadorias com maior rapidez, mas pelo que o que estou suspeitando, e tenho direito de suspeitar principalmente quando as coisas não são claras, o transporte de mercadoria só irá ocorrer depois que exaurirem primeiro os nossos recursos minerais. A história nos mostra os fatos do passado e me dá o devido respaldo para embasar as minhas suspeitas. Oxalá que estas minhas suspeitas estejam erradas.

Veja um exemplo do que poderia ser feito em Montes Claros, utilizando o espaço que antes circulavam os trens e que hoje está sendo inutilizado.