Hoje praticamente qualquer criança a partir dos 12 anos de idade tem um celular com câmera e tecnologia WiFi, que se conecta à internet. E muitos crimes vêm sendo solucionados graças a participação popular. Hoje nos informamos mais online e qualquer fato relevante que acontece em qualquer parte do mundo, chega ao nosso conhecimento em questão de minutos. O que antes levava anos.
Recentemente mais um caso de violência policial veio sujar as páginas da nossa Montes Claros. E mais uma vez o caso repercutiu graças a participação popular. Alguns meses atrás, o caso Amarildo, onde 25 policiais militares estão sendo acusados de tortura, ocultação de cadáver, fraude processual e formação de quadrilha, contribuiu para que a população brasileira, juntamente com os órgãos de direitos humanos, repensassem sobre o verdadeiro papel da polícia militar.
Para Jair Krischke, militante dos direitos humanos, “as polícias militares do Brasil foram criadas por um decreto-lei da Ditadura”. Segundo ele “não tem que haver polícia militar coisa nenhuma, mas, sim, uma polícia civil, tem de ser uma polícia de carreira, como se faz na Europa. A pessoa entra como um servidor policial comum e pode chegar — na medida em que vai frequentando cursos — a ser chefe da polícia.”
Os abusos de poder no entanto não pararam. Dá-se na verdade a impressão de que tais abusos aumentaram, mas o que acontece realmente é que o que aumentou foi o número de denúncias por parte dos cidadãos-vigilantes. Graças às mídias independentes, como a Mídia Ninja, que ficamos conhecendo a ação truculenta da polícia militar de Belo Horizonte, onde ficou célebre a frase “vocês são o câncer do mundo e deviam todos morrer”, dita aos manifestantes que protestavam contra a Copa.
Nem advogados escapam de certas ações truculentas da polícia, como foi o caso de Benedito Roberto Barbosa, que é advogado do Centro Gaspar Garcia de Direitos Humanos. E o que podemos dizer sobre o abuso de poder por parte da polícia contra Everton Rodrigues, ativista do movimento Software Livre, que tirou uma foto de um carro de polícia que estava estacionado em cima da calçada? Como poderá depois o cidadão acreditar na versão policial de que Everton Rodrigues foi detido por “caminhar de forma apressada”?
Num levantamento obtido pela Ponte.org, PMs de São Paulo mataram mais de 10 mil pessoas. Conforme o jornalista André Caramante “entre 2008 e 2012, a PM paulista matou 9,5 vezes mais do que todas as polícias dos Estados Unidos juntas durante o trabalho de policiamento.” É um cenário de guerra onde os próprios militares também acabam morrendo.
Não podemos voltar ao pensamento medieval de olho por olho e dente por dente, se assim for todos terminaremos cegos e banguelos. O que o cidadão de bem quer é paz e segurança. Se por um lado existem os bandidos que amedrontam e aterrorizam, do outro lado devemos contar com a polícia que promulga o bem e apazígua os conflitos. Uma polícia que seja exemplo de bondade, que saiba dialogar, que impõe respeito mas sabendo respeitar.
O bandido é que deve temer ser filmado e é por causa disso que as câmeras de vigilância se propagam nas residências e comércios. Assim como é o infrator de trânsito que deve temer as câmeras de controle de velocidade (radares). O cidadão de bem que respeita as leis de trânsito não precisa temê-las. Se um politico teme que alguém filme suas falas na câmera municipal, então é porque tem algo errado e ele tem algo a dever. Se um policial teme que seja filmado em qualquer abordagem, então é porque ele sabe que a lei não está do seu lado, porque suas suas ações são ilegais. E o que tem de comum entre políticos e policiais? Ambos existem para favorecer o povo, um criando leis, outro para certificar que as leis sejam cumpridas. São portanto funcionários do povo.
Talvez alguns policiais brasileiros não saibam ainda, como o vídeo demonstrou que a polícia de Montes Claros parece não saber, hoje em dia é muito comum, e está cada vez mais se consolidando, o cidadão repórter. Vários meios de comunicação já divulgam reportagens realizados por estes cidadãos que, com um celular nas mãos, criam furos de reportagens.
Na Inglaterra, por exemplo, temos o brasileiro Charles Veitch, que também é um cidadão britânico, onde ele é um destes “cidadão repórter e ativista”. Seu canal The Love Police (A polícia do Amor) cada vez mais vem ganhando popularidade, justamente por filmar as abordagens policiais e denunciar seus crimes e os crimes cometidos por empresas e também por bancos. Com uma câmera numa mão e um megafone na outra, ele vai divulgando seu trabalho, que é o de conscientizar a polícia para ela se transformar de uma polícia da violência para uma polícia do amor. E não há nada que as policias britânicas possam fazer. E olha que a violência da polícia britânica nem se compara com a violência da polícia brasileira.
Portanto, o policial brasileiro deveria se portar como qualquer outro cidadão quando entra dentro de um supermercado ou loja, onde se depara com aquele típico anúncio de “Sorria, você está sendo filmado”. Seria bom que a polícia militar de Montes Claros pudesse promover mais amor e menos terror. Já basta a violência no nosso dia a dia. Precisamos de agentes da paz!