A realidade da Montes Claros atual é bem diferente da Montes Claros de 40 anos atrás. Acredito que é louvável investir em esporte, lazer e cultura, para incentivar jovens ao convívio social, tirando-os ao mesmo tempo das ruas e da criminalidade. Mas fico me perguntando: será que atualmente precisamos de uma obra como o estádio do Mocão? Uma, porque talvez vivemos 40 anos dormindo um sonho letárgico. Outra, porque antes talvez houvesse mais segurança e as famílias podiam ir aos campos de várzea assistir aos jogos. E eram nestes campos de várzea, onde realmente surgiam os verdadeiros craques. Mané Garrincha foi um grande exemplo. E de que adianta um estádio como o Mocão, se não estamos formando jogadores atualmente?
Será que não corremos o risco de ter um estádio fantasma? Porque então no lugar de uma construção como esta, não construirmos mais praças de esportes? Já disse aqui, em outra ocasião, que Montes Claros necessitava de pelo menos outras quatro “praças de esportes, lazer e cultura”. O governo federal vem disponibilizando recursos para a construção de praças de esportes através da segunda etapa do Plano de Aceleração do Crescimento (PAC 2), que agora recebe o nome de Centro das Artes e Esportes Unificados (CEUs). E de acordo com o site do governo “o objetivo das CEUs Centros de Artes e Esportes Unificados é integrar num mesmo espaço físico, programas e ações culturais, práticas esportivas e de lazer, formação e qualificação para o mercado de trabalho, serviços sócio-assistenciais, políticas de prevenção à violência e inclusão digital, de modo a promover a cidadania em territórios de alta vulnerabilidade social das cidades brasileiras.” Ou seja, numa única área seriam atendidas várias necessidades da população e num mesmo espaço ou numa mesma sala, poderia dar vários usos, criando espaços multiúsos.
Pelo que pude observar, com o custo estimado do estádio do Mocão, poderíamos ter debaixo dos céus de Montes Claros outros dez CEUs. Então porque não construir mais praças de esportes, revitalizando as praças antigas e dando garantias para que todos pudessem praticar esportes e atividades de lazer e culturais? Porque não construir mais postos de saúde e mais escolas, no lugar da realização desse sonho antigo, que talvez nem seja mais o sonho da Montes Claros atual? Ou que ainda que seja o sonho de muitos, mas que com certeza esses mesmos “sonhadores de 40 anos” talvez devam ter também outros sonhos, mais atuais, mais prioritários. De que adiantaria formarmos jogadores, se estes por acaso viessem a estar em campo, com certeza estariam com suas preocupações voltadas para a família. Acabo de ver uma reportagem onde pessoas dentro de um precário posto de saúde, aguardavam debaixo de chuva para serem atendidos, já que chovia dentro do próprio posto de saúde. Sim, caros leitores, chuva forte caindo dentro de um posto de saúde de Montes Claros. Dava até a impressão de que chovia mais dentro do posto de saúde, do que do lado de fora. Podemos novamente perguntar: com que tranquilidade algum jogador iria se apresentar para o jogo, ao saber que na noite anterior a chuva e o barro invadiram sua casa, destruindo vários bens materiais adquiridos ao longo de uma vida?
Se o prefeito conseguir realizar outras prioridades que a população de Montes Claros vêm clamando diariamente (de manha, a tarde e a noite), quem sabe assim ele não consiga créditos para uma reeleição e talvez ai neste segundo mandato, ele não consiga então concluir esta obra que, sem dúvida alguma, será muito importante para Montes Claros. Mas a Montes Claros de hoje com certeza precisa que outros assuntos sejam realizados primeiramente. Na verdade, acredito que Montes Claros necessita que várias medidas urgentes sejam tomadas em benefício do município, para que a população volte a sonhar novamente. Parece que sonhar era privilégio de uma Montes Claros de quarenta anos atrás. Hoje, só o fato de conseguir ter uma noite de sono tranquila, já é uma grande vitória. Ter noites de silêncio e paz, já parece em si um sonho para a população da Montes Claros atual.
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