No dia 21 de Outubro se comemorou o dia dos agentes de limpeza, também conhecidos como garis. São graças a estes agentes que as nossas ruas se tornam mais transitáveis, com menos poluição visual da sujeira que vai se acumulando caso estes agentes cheguem a faltar. Com o seu trabalho nobre, eles afastam de nós o mau cheiro e as moscas, evitam também que mais ratos sejam atraídos para junto do nosso convívio. Talvez eles só não conseguem afastar os ratos que infestam a nossa política. Talvez. Essa profissão deveria ser comparada com a da medicina, pois ambas têm uma relação direta com a nossa saúde. Enquanto uma cura, a outra previne.
Infelizmente em Montes Claros pouco ou nada teve que comemorar nesta data e para muitos ela passou desapercebida. O serviço de coleta de lixo e de limpeza urbana, assim como outros serviços, pertencem agora exclusivamente à ESURB (anteriormente a ESURB dividia as tarefas com outras empresas num regime misto, pelo que pudemos apurar), que era comandada por Leonardo de Andrade e este agora vem ocupando a Secretaria de Serviços Urbanos da Prefeitura. Podemos dizer que a falta de comemoração parte de dentro da própria ESURB, de seus funcionários que põem a mão no serviço mais pesado.
Conforme pode ser observado nas fotografias anexadas, os funcionários da ESURB vêm trabalhando em condições desumanas. Faltam-lhes o básico do básico, que são os Equipamentos de Proteção Individual (EPI). E se isso por si só já não bastasse como forma de impedir a continuidade dos trabalhos, que deveriam ser executados por estes dignos trabalhadores de forma também digna, eles ainda têm que novamente colocar suas vidas em risco, e também a vida da população, ao dirigir caminhões que muitos alegam faltar freios, outros dizem faltar pedal do acelerador e também as luzes de iluminação e sinalização. O problema só não é mais grave porque alguns funcionários chegam a custear parte do material faltante do próprio bolso, para assim poderem conseguir trabalhar, com um pouco mais de dignidade e de forma, digamos, menos arriscada.
Quando fizemos um curso de eletricidade, no Colégio de North West em Londres, praticamente ficamos a metade do ano, ou seja seis meses aprendendo sobre Saúde e Segurança do Trabalho (Heathy and Safety, em inglês). Aprendemos desde o uso correto para cada tipo de extintor até a forma correta de inspecionar e posicionar uma escada na parede. Aprendemos que o Equipamento de Proteção Individual, não era um simples uniforme e nenhum aluno teria acesso às aulas nos laboratórios sem a presença deste equipamento. Qualquer trabalhador no Reino Unido é treinado para denunciar a empresa na qual trabalha, quando esta não cumpre com algum dos requisitos que lhes são obrigados por lei. O trabalhador faz a denúncia e fica em casa descansando e recebendo, até que a empresa normalize a situação que lhe compete.
E isso faz todo sentido. Porque prevenir é o caminho, por ser mais prático, mas econômico, mais higiênico, mais saudável e por evitar maiores transtornos. Mas em Montes Claros, observando a situação da ESURB (e com certeza que deve também ocorrer em outros setores públicos e privados) vemos que as pessoas que estão por detrás desta empresa vêm preferindo remediar do que prevenir. E diferentemente do que acontece na Inglaterra, onde o funcionário que denuncia algo que acontece de errado dentro da empresa na qual ele trabalha não é visto como um “caguete” ou “dedo duro” e sim como um aliado desta empresa, pois este funcionário estaria evitando que ela pagasse indenizações milionárias ou contribuindo para o não fechamento da empresa, mas em Montes Claros parece que se um funcionário da ESURB denuncia a sua insalubre situação de trabalho, ele acaba sofrendo ameaças e perseguições.
Esperamos que o presidente da Câmera de Montes Claros, Dr. Antônio Silveira, possa nomear três competentes fiscais para fiscalizar os serviços prestados pela ESURB. Esperamos que estes fiscais possam trabalhar de forma isenta e que possam também ser treinados para fazer uma fiscalização com olhos mais abertos e temos a certeza de que muita coisa deverá vir à tona. Com tudo isso que acabamos de descrever, não estamos querendo sugerir que os recursos públicos possam estar sendo desviados, mas devido a essa falta de respeito que vem ocorrendo com os funcionários da ESURB, que não recebem uniformes nem Equipamentos de Proteção Individual, há um forte indício de que as coisas e as contas não andam batendo muito bem por lá também. É preciso haver uma investigação mais séria e uma maior abertura para se ouvir as queixas dos funcionários. Vamos prevenir, para não termos que ficar choramingando, remediando e tapando buracos, aqui e acolá, a vida toda. O povo montesclarense não merece continuar nesse atoleiro de procedimentos descabidos e irresponsáveis.
Tenho convicção de que o problema pela qual a ESURB vem passando nos últimos anos possa ser em breve uma página do passado da nossa história. Quem sabe um dia Montes Claros não volte a ser uma cidade limpa e bem cheirosa, sem os “ratos” que roubam a nossa merenda escolar, nem aqueles que pululam os nossos esgotos a céu aberto. Quando este dia chegar, talvez não consigamos distinguir entre a bata de um médico e o uniforme de um agente de limpeza. E gostaria de relembrar mais uma vez que tanto o médico quanto o agente de limpeza tem a função de nos salvar a vida. Esta é a minha pequena homenagem, ainda que tardia, a todos estes nobres seres cujo trabalho é deixar as nossas cidades mais limpas e mais cheirosas.
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